Porto Sentido:
Sentido de Responsabilidade
Acabou-se a campanha presidencial e voltaram as ameaças ao governo de José Sócrates. O Bloco de Esquerda e todos aqueles que desejam aprovar uma moção de censura neste momento, precisam um pouco mais de sentido de responsabilidade para com esta crise, para com o país e os portugueses. É isto que falta a alguns partidos.
Devemos entender a Responsabilidade em dois sentidos: jurídico e moral. No seu sentido jurídico devemos ter em conta que a responsabilidade obriga reparar um dano que causamos em determinadas circunstâncias; no âmbito Moral devemos entender como sendo uma obrigação de suportar as consequências dos actos que tomamos como nossos. É este o sentido da responsabilidade e com isto entendemos que o indivíduo deve assumir e suportar toda e quaisquer consequências das atitudes que adopta.
Podemos concluir que quem adoptar uma moção de censura ao governo, deve também adoptar as consequências que esta atitude pode trazer para o agravamento da crise económica. Uma moção de censura não nos leva a lado nenhum nas circunstâncias que enfrentamos.
Enquanto o Partido Socialista e José Sócrates enfrentam a crise de frente, os restantes olham-na de lado e fazem jogos de poder nos bastidores. Não é disto que o país precisa para hoje e para o futuro. Precisamos de continuar o sentido de responsabilidade, de enfrentar os problemas pela frente e não piorar a situação com uma eventual queda do governo porque Portugal não é suficientemente forte para enfrentar em simultâneo uma crise económica e uma crise política. Isto que digo não é de hoje e já vivemos essa mesma experiência em várias fases durante a Primeira República. Os tempos eram diferentes, a forma de pensar também mas as crises eram e ainda são crises com este significado: momento perigoso e decisivo/a nível económico: rápida descida de preços, do volume de produção ou dos rendimentos.
O anúncio do Bloco de Esquerda foi mais um tiro nos pés do próprio partido, por isso, já é tempo de saírem da rebeldia partidária, da adolescência bloquista e enfrentarem a realidade com olhos de ver. É certo que ninguém pode proibir alguém de apresentar uma moção de censura porque felizmente vivemos numa democracia. No entanto, isto não impede de, com o diálogo que caracteriza o debate democrático, fazermos ver que essa não é a realidade melhor para o país.
Também através do diálogo, com boas argumentações e contributos, a oposição, se de facto quer tirar o país da crise, pode usar o Parlamento para fazer ver que também tem boas soluções. Infelizmente não tem feito isso, deixam-se levar pela sede de poder, pela discussão mesquinha e é esse tipo de política que leva ao desânimo do eleitorado e ao aumento dos níveis de abstenção. Não é isso que os partidos querem, pois, é cada vez mais importante uma participação massiva dos eleitores nos actos democráticos.
Fazer oposição para simplesmente sermos opositores não é solução e não se enquadra num sentido de responsabilidade. Esta tomada de posição por parte do Bloco de Esquerda também pode e deve ser entendida como um sinal de desgaste e desespero da liderança de Francisco Louçã. Os líderes são verdadeiros líderes de forma cíclica, por isso, está na altura do BE repensar a sua liderança.
Se Trotsky (1879-1940) fosse vivo e tivesse oportunidade de observar tamanha irresponsabilidade sabendo que o Bloco de Esquerda é um partido que usa as suas ideologias como base (o trotskismo) diria: que mal fiz eu a Deus?!
Nuno Pereira
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