sábado, 29 de agosto de 2009

Baixa Política

Escrevo porque estou indignado.
O candidato do PSD à Câmara Municipal da Praia da Vitória, na apresentação dos candidatos deste partido às Juntas de Freguesia do Concelho da Praia da Vitória, ao invés de valorizar os candidatos que apresentava, utilizou a referida apresentação para lançar insultos e graves acusações gratuitas à candidatura do Partido Socialista.
As acusações graves e de baixo nível que proferiu mostram o desespero e a postura deste candidato que em nada dignifica a democracia, o Concelho da Praia da Vitória e, estamos certos, muitas pessoas do Partido Social Democrata que, certamente, se sentem envergonhadas e desmotivadas com esta postura.
Parece que o candidato do PSD tem memória curta e não se recorda das perseguições e dos métodos utilizados pelas Câmaras do PSD que apoiavam freguesias, instituições e pessoas consoante as suas afinidades partidárias, que hostilizavam todos aqueles que não partilhavam o mesmo cartão de militante com os dirigentes da autarquia nessa altura e que ameaçavam com o fim de contratos de trabalho ou prometiam empregos em troca de aceitação por um lugar nas listas do PSD.
Desde 2005 que a Câmara Municipal da Praia da Vitória se pautou por uma actuação transparente, justa e com critérios bem definidos. Prova disso são os investimentos em todas as Freguesias do Concelho, independentemente da cor partidária de cada Junta de Freguesia, ou o programa Fundo de Coesão Rural que apoia todas as Instituições do Concelho através da apresentação de projectos, sendo os mesmos pontuados consoante a sua importância e o cumprimento de requisitos pré-estabelecidos num regulamento.
Foi assim ao longo dos últimos quatro anos e será assim no futuro, com justiça, com visão e com coração, colocando os interesses da Praia da Vitória e das nossas 11 Freguesias acima de guerrilhas partidárias promovidas por quem apenas quer o pior para o nosso Concelho.
As listas do Partido Socialista à Câmara Municipal, Assembleia Municipal e Assembleias de Freguesia são compostas por pessoas sérias, idóneas e que querem dar o melhor pela sua Terra, sem qualquer tipo de pressão, como era apanágio do PSD.
Esse tempo, felizmente, acabou.
Acreditamos que também nas listas do PSD estarão pessoas sérias e honestas que não se revêem neste tipo de acusações e de baixa política que o candidato do PSD à Câmara Municipal promove.
A Praia da Vitória é um Concelho em boas mãos e assim continuará como reconhecimento pelo trabalho exemplar que tem sido realizado nos últimos quatro anos.

*Texto publicado no jornal "Diário Insular"

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Entrevista a Leonor Poeiras e Francisco Penim


Leonor Poeiras:



Leonor Poeiras estreou-se em televisão no ‘Diário da Manhã’ ao lado de Júlia Pinheiro e Henrique Garcia. Depois enfrentou o desafio de ser, ao lado de José Carlos Araújo, a apresentadora de ‘Fear Factor – Desafio Total’. Voltou e foi recebida como pivô do informativo matinal, dando mais tarde o salto definitivo para o entretenimento, onde se encontra actualmente como apresentadora de ‘Quem Quer Ganha’, substituindo ainda Júlia Pinheiro no seu programa quando esta se ausente. Vamos ver o que Leonor nos revela sobre o seu percurso profissional e sobre quem é esta apresentadora que adora desafios.

Quem é a Leonor Poeiras?

Sou uma pessoa muito bem-disposta. Decidi ser feliz muito pequenina e por isso movo-me nesse sentido!

Faço o possível para proporcionar momentos felizes aos que me rodeiam! E é isso que me faz feliz!

Como foi parar a televisão? Ainda se lembra da sua estreia em frente as câmaras?

Depois de concluir o curso na Católica fiz um estágio na TVI de 6 meses e no final fui convidada para integrar a 1ª equipa do ‘Diário da Manhã’. A primeira vez frente às câmaras foi em Outubro de 2004, num directo para o ‘Diário da Manhã’; a partir de uma pastelaria no Campo Grande em Lisboa, questionei várias pessoas sobre Egas Moniz… Raras souberam dizer que razão o levou a ganhar o Nobel da Medicina em 1949. Lembro-me perfeitamente, correu-me muito bem!

A Leonor começou como repórter do ‘Diário da Manha’. Como foi fazer trabalho de reportagem?

Foi muito satisfatório entrevistar o cidadão comum todo os dias. Adoro trabalhar em directo e em equipa! E ter a Júlia Pinheiro e o Henrique Garcia sempre por perto nesta altura foi fundamental para aperfeiçoar o meu trabalho.

Como surgiu o convite para apresentar o ‘Fear Factor’?

Foi o José Eduardo Moniz que sugeriu o meu nome para o casting. Fiz e fui escolhida. Foi óptimo receber a notícia!

Gostou de fazer dupla com o José Carlos Araújo?

Quem não gosta? O Zé Carlos é um dos mais brilhantes profissionais que conheço! Adoro-o! E aprendi muuuuuuito com ele!

O que mais a marcou neste programa?

Curiosamente tudo o que vivi atrás das câmaras. Foi uma experiência maravilhosa viver 3 meses na Argentina. Estreei-me no entretenimento com a Endemol e não podia ter corrido melhor! Continuo a acreditar que sem uma boa equipa não somos nada!

Em 2004 voltou de novo para o ‘Diário da Manha’. Como foi apresentar esse espaço?

Foi excelente, mas muito duro por questões de horários.

Na altura, a imprensa disse que foi a Leonor que pediu para sair. Foi verdade?

Sim, pelas razões que dei agora. E na TVI compreenderam e aceitaram.

Actualmente está no ‘Quem Quer Ganha’, gosta de apresentar este programa?

Adoro o ‘Quem Quer Ganha’. Que bom que é oferecer todos os dias dinheiro! Especialmente a quem mais precisa. E depois, lá está, voltamos à equipa. Somos muito ligados. Com a Endemol sinto-me em casa!

Como surgiu a oportunidade de o apresentar?

Numa primeira vez foi para substituir a Iva, que durante muito tempo não teve férias. A partir daí cresci no programa.

O ‘Quem Quer Ganha’ sofreu alterações, o que acha deste renovado programa? Está mais divertido?

Está mais animado! Tem público e eu divirto-me sempre! Passa a correr!

Sente a responsabilidade de substituir Júlia Pinheiro no programa ‘As Tardes da Júlia’?

Claro! Mas é com um sorriso nos lábios que a substituo! Mostrar que sou versátil é muito positivo!

Aos 24 anos, a Leonor disse que sonhava em apresentar um programa de informação puro e duro. Ainda tem este sonho?

Não. Adoro a minha boa disposição e alegria e não quero abdicar delas!

Já recebeu convites para sair da TVI?

Não.

Espera um dia apresentar em horário nobre?

Trabalho com o mesmo empenho em qualquer horário... e acho lamentável que se pense que o horário nobre é a meta, porque tem melhores audiências!

Eu trabalho para o público, não para os números!

Que conselho dá aos jovens que querem seguir o mundo da televisão?

Acho fundamental que tenham talento! Por isso analisem bem a vossa personalidade! Se têm algo a acrescentar ao que já existe... muito bem! Aí é seguir em frente! De alma e coração!

Diogo Filipe e Nuno Pereira

Francisco Penim:



Francisco Penim, ficou conhecido como director de programas da SIC, mas antes foi o responsável pelo nascimento da SIC Radical e do fenómeno “Gato Fedorento”, esteve à conversa com o “Novelas Nacionais”, falou-nos um pouco sobre a sua passagem na SIC e das suas opções enquanto director de programas da SIC. Francisco Penim foi directo e preciso, como todos nós o conhecemos.

Quem é o Francisco Penim?
Sou jornalista e executivo de televisão.

Qual a importância que a TV tem na sua vida?
Imensa, uma vez que foi na televisão onde trabalhei mais anos.

Quando foi director da SIC Radical qual o momento mais marcante?
São muitos mas o seu lançamento foi talvez o momento mais marcante porque a partir desse momento nada seria como dantes.

Com a saída de Manuel da Fonseca foi convidado a ser director de programas da SIC. Se fosse hoje teria aceitado o convite?
Claro que sim. É um convite que não se pode recusar.

O porquê da queda da SIC, quando era director? Foram programas mal escolhidos ou era uma TVI e RTP muito fortes?
A SIC começou a cair em 1997 e não quando eu era director. Hoje continua a cair e atingiu os resultados mais baixos da sua história. Responder a esta pergunta era estar 4 horas a falar porque não há uma resposta simples. Há uma miríade de justificações e variáveis que fizeram, ao longo dos anos, com que a SIC caísse nas audiências.

Qual foi a pior aposta da SIC durante a sua passagem como director de programas?
De novo, é difícil de responder, mas não é a primeira vez que dou o exemplo do Wrestling como uma má aposta minha nos anos como director de programas da SIC.

O seu objectivo era que a SIC conseguisse ser uma televisão inovadora, facto que se veio a revelar um fracasso, como vê hoje a SIC?
A SIC é uma televisão inovadora, comigo e com todos os directores de programas que teve e tem. Dizer que isso se revelou um fracasso não é nem correcto, nem objectivo. A SIC hoje passa pela sua pior fase de resultados, quer financeiros, quer de audiências... mas é uma fase. A SIC há-de ficar melhor.

Enquanto director da SIC, José Figueiras, Ana Marques, entre outros apresentadores foram esquecidos, porque?
São opções tal e qual como um treinador de futebol faz quando escolhe os jogadores que jogam na sua equipa.

Na SIC apostou na ficção nacional, que ainda teve alguns sucessos como Floribella e Vingança, a actual direcção tenta fazer o mesmo, mas não está a conseguir. Porquê? A ficção da SIC esta parecida com a da TVI?
A aposta actual da ficção da SIC é muito diferente da minha, nas opções artísticas e na quantidade de novelas. A Floribella não foi apenas um sucesso, foi o maior sucesso da história da SIC na perspectiva do impacto que teve na sociedade. Ter uma "fábrica" de fazer novelas de sucesso demorou à TVI cerca de 6 anos. Em apenas 2 anos na SIC fizemos uma fábrica que fez novelas com e sem audiência. A SIC actual só fez uma novela sem audiência e não é com uma novela que se faz uma "fábrica", que se faz um género ou uma escola de novela ou que se ombreia com as novelas da TVI.

Quais os melhores e piores momentos enquanto directo da SIC?
Não houve bons e maus momentos. Há momentos de luta e todos os momentos na SIC foram momentos de luta.

Nuno Santos tem sido um bom director de programas?
Os directores de programas são seres humanos, fazem erros e tomam boas decisões. O Nuno está a fazer o melhor trabalho possível.

Com a saída de José Eduardo Moniz a Televisão em Portugal fica mais pobre?
Sim, claro.

A saída de Moniz pode levar a que a TVI perca a liderança? Ou na sua opinião a TVI tem uma estrutura capaz de ultrapassar esta perca?
Pode perder com tempo mas as variáveis são tantas que qualquer previsão é perda de tempo.

O que espera da TV no futuro?
Espero que seja uma televisão que agrade mais o público, que o mesmo tenha a escolha que necessite ao seu alcance.

Como avalia o aparecimento de espaços onde se discute televisão? Enquanto director de programas da SIC alguma vez os visitou?
Sinceramente penso que são de uma gestão impossível devido ao carácter anónimo da Internet. Têm obviamente o seu interesse mas não me seduzem enquanto utilizador.

Diogo Filipe e Nuno Pereira

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Teatro PSD

O PSD tem assumido ultimamente umas atitudes engraçadas e tristes. Carlos César apelou ao voto no Partido Socialista e o PSD criticou esse aspecto porque entende que não o deve fazer enquanto exerce o cargo de Presidente do Governo Regional dos Açores esquecendo-se que ele é também presidente do Partido Socialista dos Açores. Contudo, Carlos César mantém o respeito pelos açorianos ao não assumir as funções de cabeça de lista do PS nos Açores às legislativas de 27 de Setembro.

Olhando para o arquipélago de Jardim, já nem digo “para o outro arquipélago português”, eu pergunto: qual a opinião do PSD Açores sobre o facto de Alberto João Jardim, Presidente do Governo Regional da Madeira, ser o cabeça de lista do PSD Madeira às legislativas 2009 pela Região Autónoma da Madeira apelando assim, directamente, ao voto no PSD? Segundo o ponto de vista do PSD Açores, Jardim também não devia ser candidato a deputado nas legislativas, pois, directa ou indirectamente está apelando ao voto no PSD.

A este PSD Açores aconselho olharem em seu redor e pensarem antes de agir ou dizerem qualquer tipo de asneira, o que já vem sendo habitual. Um PSD com um vazio de ideias que vive numa constante glorificação do seu passado e que não se preocupa em resolver os problemas que o país enfrenta. Preocupa-se sim se a pessoa X ou Y integram ou não as listas do partido e que recorre a ataques com a mesquinhice do costume e que demonstram que não conseguem outra forma de fazer oposição ao adversário, sublinhando assim o vazio de ideias que o PSD tem mostrado a todos nós.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Entrevista a Rui Luís Brás




Entrevista feita por mim e pelo meu colega Diogo Filipe ao meu amigo, Rui Luís Brás para o site www.novelasnacionais.com:

Como chegou ao instituto franco português?

Eu estudava na Cidade Universitária na altura, estava a fazer o 12º ano, estava a tentar ingressar no conservatório e havia uma colega da minha turma que estava lá a estudar teatro e estavam a precisar de mais um actor e ela sabia que eu queria ser actor e então chamou-me e eu fui lá falar com o encenador, Danielle Burront, e comecei a fazer teatro lá.

Como é trabalhar com o produtor, Felipe La Féria?

Na altura não trabalhei com ele como produtor, trabalhei em 89 e fiz uma peça dele na fundação Gulbenkian chamada “Ilha do Oriente”, com textos de Mário Cláudio e tinha vindo do Teatro Aberto nessa altura e fui directo para lá e pronto a trabalhar com o Filipe (silêncio) … O Filipe é um encenador de imagens, é um encenador que me ensinou um bocadinho a perspectiva de me ver de fora, de conseguir ir pesquisar mais o método e derrepente ele obrigou-me a perceber o outro lado de ser actor. Um actor é um toureiro e portanto, enfrenta o público, seja grande, seja maior, no sentido da auto confiança, fez-me algum bem, mas sobretudo aprender a ver-me em cena mas de fora, que imagem é que terá saído de mim quando eu faço um determinado gesto ou quando eu digo algo. Foi um processo muito pacífico apesar do Filipe ser uma pessoa muito nervosa. Como produtor trabalhei agora porque tive a encenar o “Meu pé de Laranja Lima” lá para o Teatro Politeama e obviamente que foi uma relação menos densa no sentido em que eu estava como encenador e ele a encenar o “West Side Story”, portanto tivemos discussões artísticas sobre diversas coisas, nomeadamente, a cenografia e tal e obviamente que não foi um processo muito fácil mas acabou bem. Mas sinto-me muito honrado pelo convite do Politeama e pela parte do Filipe por ter feito lá o espectáculo.

Para si o que significa a cidade de Macau?

É a minha terra! Macau, eu vivi 9 anos em Macau a ir e vir nos anos 90. Fui lá fazer um filme, fiquei lá a viver e a dar aulas e basicamente só dava aulas porque trabalho como actor só tive um porque não há praticamente trabalho de actor em Macau. Não é muito comum. É uma cidade, era um cidade cheia de mística, muito agradável de viver, com imensa qualidade de vida, uma espécie de aldeia pequenina onde havia tudo, onde conhecias toda a gente, e vivias com muita tranquilidade, não precisavas de usar carro, era tudo perto, para além de ter uma ambiência muito especial, que me fez descobrir que eu afinal tenho gosto ou raízes muito pró asiáticas e que foi um grande sofrimento ver a bandeira a descer no dia em que Portugal reintegrou na China. Macau que nunca foi uma colónia, foi sempre um território ofertado pelos chineses para o comércio português, era uma parte portuguesa. Nunca entendi porque é que Macau entretanto foi entregue porque não havia razão. Era um sítio até politicamente muito específico, à margem, e quando lá voltei há 3 anos foi uma desilusão muito grande porque Macau está muito bonitinho hoje mas é uma terra de cavinda, é uma Las Vegas, perdeu toda a identidade, todos os sítios onde eu costumava ir, a escola onde eu dei aulas, muitas coisas a serem destruídas, as ruas a mudaram completamente de características, foi um bocadinho aflitivo. Eu não me revejo na Macau de hoje. Macau mais pequenina, mais bonita, mais mística, essa é que era a minha terra.

Acha que é uma cidade inspiradora?

Era uma cidade muito inspiradora porque estava cheia de um tipo de pessoas. E sempre me dei mais com chineses do que com macaenses. Mas os poucos amigos portugueses que tinha e foram alguns, eram um tipo de emigração muito específica, gente muito interessada e que amava estar ali. Naquela altura as pessoas não iam lá basicamente por dinheiro, pelo menos os meus amigos que estavam lá há 20 ou 30 anos, constituíram família ali, tinham os amigos ali, eram ex-hipis, pessoas muito cultas, muito artistas, e eu gostava muito porque havia tertúlias interessantíssimas quando estávamos a beber copos e a conversar até às tantas e muito gosto por pintura e literatura, o que é muito raro às vezes no nosso corre-corre hoje em dia de retomar. E Macau para mim…

Porque decidiu ser actor e hoje em dia encenador?

Não sei. No caso de como actor foi uma cena muito vocacional desde miúdo. Nem eu sei explicar porquê! … Já encontrei muitas explicações para isso mas o gostar de me transformar, de ser outras pessoas, de perceber o ponto de vista dos outros é dado como psicólogo. Acho piada mesmo na vida com os meus amigos. Ser ouvinte… dar apoio e portanto eu acho que isso transborda na minha profissão para o acto que eu acho que é maravilhoso de recriar o ser humano usando o teu corpo como instrumento e transformares-te noutra pessoa que não és tu e emocionares-te pelo pensamento dela, acreditares no que ela diz. Epá, não sei o porquê? Foi vocacional. Ser encenador nunca tinha pensado. Começar a dar aulas de teatro e muitas vezes estares a trabalhar um texto e os alunos querem apresentá-lo à família e ao resto da escola obrigou-me lentamente a ter que pôr em cena, porque achei que era legítimo o pedido deles, esta ou aquela peça e daí descobri um prazer muito maior que é o de gostar muito mais de estar de fora a encenar e a dirigir outros actores não pela encenação mas pelo facto de dirigir outros actores. Não era de todo o espectáculo que me entusiasmava mas sim fazer direcção de actores e acho que o tempo vai passando e eu gosto muito menos de estar no palco e muito mais de estar fora do palco.

Qual é a área que mais gosta? Cinema, teatro ou televisão?

Se pudesse fazer só cinema era isso que faria e encenar teatro. Fazer muito pouca coisa como actor. Claro que há textos e há coisas específicas que dão um gozo imenso de fazer. Agora… das três à partida, acho que prefiro cinema e é aquela em que eu há mais tempo não trabalho. Tenho feito pouca coisa e pontual. No início da carreira fiz imensa coisa, portanto, cinema estrangeiro, pequenas personagens. Gostava muito porque é um tipo de trabalho com uma especificidade de acting que tem mais a ver com a minha maneira de estar e que eu gosto mais. A televisão é mais excessiva, é diferente, mais grosseira nesse sentido. É muito rápida, muitas cenas. Em cinema exige um trabalho de actor mais profundo, mais pesquisa, mais rigoroso. Mas adoro as três. O que não gosto é ficar a fazer só uma das coisas. É muito porreiro ir brincando ora a uma coisa, ora a outra e tenho tido essa sorte.

O Rui é um actor de referência. Gostava de um dia entrar pela porta de Hollywood?

Não tenho essas ambições. Eu tive há muitos anos atrás um convite da Doutora Madalena Perdigão na Gulbenkian em que ela fretava uma bolsa para eu ir para onde quisesse, neste caso para o Oxy Studio e eu por medo ou falta de ambição recusei. Hoje arrependi-me. Porque a minha única ambição é viver da minha profissão e fazer o melhor possível do meu trabalho e que o público me respeite e goste de mim enquanto profissional. É tudo! Claro que sonho receber um Óscar. Obviamente e sonhar não custa nada! É uma coisa que para mim está muito longe e nem sequer está no meu objectivo. Adoraria mas não.

Que peça de teatro mais gostou de fazer e qual foi a personagem que mais gostou de interpretar?

É difícil mas gostei de várias. Talvez por ter sido marcante para a minha carreira, um papel muito difícil, o Romeu no Romeu e Julieta quando era miúdo.

Ficou muito conhecido na RTP quando fez o Alves dos Reis. As pessoas ainda o abordam na rua como sendo o Alves dos Reis?

Diariamente. Sou mais vezes reconhecido por Alves dos Reis do que por outras coisas mais recentes e que se calhar até fiz melhor do que o Alves dos Reis apesar de na altura o Alves dos Reis ter sido uma prenda muito gira. Fiquei bastante grato pelo Dr. Moita Flores se ter lembrado de mim para fazer o papel. Era um anti herói que crescia em mim desde miúdo. Eu tinha um enfabulamento daquela personagem como uma espécie de Robbin Wood. Um tipo, brilhante, um ladrão fantástico mas que não fez bem a muita gente e tentei passar de alguma forma esta imagem enquanto fiz o papel no sentido que fosse querido para as pessoas, elas entendessem o quanto fosse possível os motivos dele. Quando acabei de gravar isso eu dizia que nesse momento sentia-me capaz de tudo, dizia as maiores barbaridades com a maior segurança que a personagem me trouxe. A forma como ele fazia toda a gente acreditar dele.

Foi uma grande série de época…

Foi. Faz-me pena que não se aposte mais nesse tipo de produto. Nós temos, felizmente, muita coisa na nossa história que podemos ir buscar. Felizmente já se estão a adaptar muitas coisas que são literatura e temos na nossa história recente e não recente imenso material para ir buscar e ficcionar. Séries como esta deviam existir pelo menos com uma produção regular. Na Antinomia do Dr. Moita Flores ele arriscou e fez quase tudo de época. O Conta-me Como Foi é actualmente a única coisa em que tenho uma profunda inveja por não estar lá porque acho que é de qualidade. Cada vez mais acho que temos que fazer este tipo de produção ao contrário das novelas que é sobretudo um trabalho fabril, industrial, que nunca podem ter o tempo e a preparação necessária a todos os níveis. Pode ser um grande produto mas é claro que há umas piores e outras melhores. As séries têm a obrigação de ter uma narrativa mais concisa, de ser “menos palha”, de ser mais sedutor para o espectador. Eu próprio prefiro mais fazer séries que outra coisa.

Considera a Vingança a grande novela portuguesa?

Para mim é, sem dúvida! Para mim a Vingança foi um dos maiores prazeres da minha vida onde tive um personagem maravilhoso no seio de colegas que adoro, com quem me dei muito bem, não vou agora referir nomes, mas todos. Foi um momento rápido de televisão e de camaradagem. Um momento muito emotivo quando acabei. Custou-me imenso! Continuaria meses a fazer aquilo que o cansaço não pesava porque era uma novela muito gira.

E sempre com ritmo…

Sim. Também acho que as novelas não se devem esticar para além daquilo que é razoável mas acabou quando tinha que acabar. Até podia ter acabado um pouquinho mais cedo... mas que foi uma coisa feita com toda a dignidade e portanto foi um orgulho para mim ter sido interveniente nisso.

Esteve na RTP, SIC e TVI. Como avalia o trabalho de cada uma das estações na ficção nacional?

Muitas vezes a conjuntura artística está por detrás de 4, 5 ou 6 anos de uma estação. Tem muito a ver com as pessoas que dirigem a estação e com o projecto que estas delinearam. Em momentos diferentes todas elas fizeram um bom trabalho. A TVI tem uma vantagem porque é um canal com grande audiência e portanto os actores que fazem ficção têm outra notoriedade. Senti-me bem com os trabalhos que fiz até hoje com a TVI. A RTP tem feito coisas de grande qualidade, sobretudo séries, que infelizmente às vezes não têm a audiência e a publicidade que deviam ter. Na SIC, à semelhança da Vingança tive oportunidades muito giras. Também foi bom enquanto lá estive. Não tenho nada contra, sou freelancer para os três. Se calhar não há uma grande diferença neste momento. A diferença está mais na RTP que se tem dedicado a trabalhos de fundo. Não tem produzido muita coisa adaptada ou então produziu mas foram muito bem enquadradas.

Esteve na SIC até há pouco tempo, onde entrou em várias telenovelas e que a meu ver não foram bem tratadas a nível de programação. Saiu magoado com o canal de Carnaxide?

Sim! Saí bastante! Saí magoado e não sem bem com quem. Não consigo encontrar um responsável porque certamente houve vários. Mas enquanto pessoa, eu e mais alguns, que tivemos a defender um produto até ao fim sem culpa nenhuma de ele ter sido menos bem conseguido, das mexidas feitas na história ou o horário em que era transmitido, sobretudo, o horário, isso modificou tudo. A minha personagem era complicada, era, um psicopata e foi feita numa adrenalina constante e custa muito saber do fim a meio do processo sem sequer pedirem desculpa. Eu acho que não tinha nada a ver com os actores mas mesmo assim, custou-me muito vê-la sair do ar. Já na novela o Jogo, Ganância, O Olhar da Serpente, O Bairro da Fonte modificaram diversas vezes os horários. A novela O Jogo foi transmitida durante imenso tempo na tarde da SIC. Chateia-me um bocado. O Maurício talvez tenha sido das melhores personagens que eu tenha feito na minha vida e custa-me um bocadinho que tenha sido para deitar fora. Eu tive cenas lixadas no campo emocional e técnico e ninguém viu. Eu não trabalho só pelo dinheiro mas também pela qualidade da coisa. Vesti a camisola da SIC enquanto lá estive e vestirei a da TVI enquanto lá estiver. Tenho que acreditar no sítio onde estou e defendê-lo. É claro que há produtos que se gosta mais e outros que se gosta menos. Se compararmos a Vingança com o Resistirei prefiro a Vingança. Fiquei magoado.

Como foi fazer Feitiço de Amor?

Foi uma surpresa muito agradável porque é uma novela mais básica que esteve muito tempo em gravações, eu chego no terço final da novela, fico até ao fim e estava com medo de encontrar uma equipa demasiado cansada e desiludida. Nada disso, fui sempre muito bem recebido, a produção foi muito querida comigo, os meus colegas. Não tenho nada a dizer. Custou-me imenso que tivesse acabado porque ainda por cima fui presenteado outra vez com uma personagem tipo o Ventura que era um bocadinho um boneco mas que começa a se transformar numa pessoa e eu gosto desse tipo de personagem, é o tipo de personagem que eu acho mais giro. Um personagem diferente de mim, que não se veste como eu, sobretudo que não se veste como eu (risos) e aquele cowboy foi muito engraçado. Tive a felicidade de contracenar com a Maria João Falcão, que é uma excelente actriz e uma óptima colega, com a Maria João Luís, Maria João Abreu, Estrela Novais e Manuel Cavaco que foram óptimos colegas com quem me dei lindamente.

Vai ter um novo projecto na TVI?

De momento não sei de nada.

Qual a sua opinião sobre o actual estado da ficção nacional?

Eu acho que se faz mais, não necessariamente melhor. Acho que se tem descido um bocadinho a fasquia dos textos. Falo pelo menos do grosso da produção. Aqui e ali tens exemplos que se calhar foram mais caros e mais cuidados e que resultaram numa boa ficção. Por exemplo: o Equador, o Conta-me Como Foi… Aqui e ali tens coisas muito giras mas são mais rápidas. Dão vontade de gravar porque é daquelas coisas que vês e achas que é bom agora e daqui a 20 anos. Há outras que vês, divertes-te mas quando acaba não voltas a ver. Apesar de para nós ser divertido e ser giro fazer, não uma coisa que eu como espectador chego a casa e quero ver. Há muita ficção dessa na qual participei e que eu depois não vejo. Já tenho que fazer não tenho que ver. Faz-se mais hoje e o mercado de trabalho é maior.

O teatro está a ir num bom caminho? O que falta ao teatro?

Não sei bem o que falta ao teatro e não sei se está a ir num bom caminho porque é um caminho desacertado cada vez que uma secretária de estado e da cultura tem uma nova directriz. Ao contrário do que se diz, o teatro tem público e há públicos muito heterogéneos e ofertas heterogéneas. Há gostos e peças para tudo e felizmente há imensa malta jovem que felizmente gosta e aprende a gostar de teatro. Não posso dar aulas numa escola se houver dinheiro para pagar um horário inteiro sendo eu formado em teatro e cinema. O teatro é terapêutico para quem vê e quem faz. Faz falta investir desde a raiz o gosto pelo teatro.

Era preciso subsidiar mais o teatro. Numa companhia de teatro muitas vezes deparamo-nos com situações em que não temos dinheiro para investir em anúncios para passar na televisão ou na rádio. Isso é cada vez mais cortado e mais difícil de se executar. Falta uma boa gestão.

Estamos num ano de várias eleições. Qual a sugestão que gostava de deixar aos vários candidatos a nível de teatro e cinema?

Que pensassem que um país que não preza, não rega, não aduba a sua própria cultura é um país muito pobre. Quando se dá primazia a tudo menos a isso é grave. Não devem olhar a nossa cultura como uma coisa menor. Supostamente é o nosso alter-ego para o mundo, que nos mostra, que divulga o que é ser português. Gostava que olhassem para o teatro não como um “parente pobre”. É difícil aceitar que se gastou tanto em estádios de futebol, sabendo que tenho colegas a passar fome porque não têm onde trabalhar, meios para produzir os seus próprios espectáculos.

Quem é o Rui?

Um tipo cansado, desiludido, humilde, que ainda ama isto, que é fazer teatro, que ainda acredita que faz algum sentido ter esta profissão, que com dias mau e dias bons há 21 anos trabalha nisto. Humanamente sou muito pouco materialista, pouco ambicioso, extremamente egocêntrico porque estou sempre a dar aos outros exemplos das minhas próprias vivencias, sobretudo um bom amigo, tenho uma quantidade razoável de amigos que mantenho há décadas, sou leal nesse aspecto, sou um gajo complicado, excessivo, sentimentalista, emociono-me com tudo, sou muito nervoso mas penso mais nos outros que em mim próprio, um bocado chato às vezes, mandão quando estou a dirigir, muito seguro a dirigir, tirano entre aspas mas é por amor. A maior parte das pessoas entende e gosta. Os outros falarão melhor sobre mim do que eu próprio.

Diogo Filipe e Nuno Pereira